domingo, 12 de dezembro de 2010

Taxistas trabalham com medo em Maceió

(Foto: Yvette Moura)

Até sexta-feira, sete taxistas tinham sido assassinados este ano em Alagoas. A violência cresceu nos últimos dias contra a categoria e provocou medo e insegurança. Centenas de táxis circulam em Maceió com fitinhas pretas simbolizando o luto pelos colegas que tombaram em serviço. 

A insegurança e o medo são passageiros diários dos taxistas que trabalham em Maceió. A morte de dois motoristas nos últimos dias reacendeu o clima de insegurança entre os profissionais da categoria. São cerca de 1.500 taxistas circulando em Maceió. Somente este ano, foram registrados sete assassinatos destes profissionais quando estavam em serviço.

Segundo taxistas ouvidos pela reportagem de O JORNAL, o medo de assaltos aumenta durante a noite, quando os bandidos se sentem mais livres para agir devido à pequena quantidade de pessoas nas ruas. Em cada ponto de táxi da cidade há pelo menos um profissional que já foi vítima de roubo.

Carlos Alberto Silva, de 35 anos, foi uma dessas vítimas. No início deste ano, ele pegou dois passageiros falsos no bairro do Farol. Eles mandaram que o taxista seguisse em direção o bairro do Poço. Quando ele se aproximou da Praça Centenário, os homens sacaram suas armas e colocaram na cabeça do condutor.

“Fui obrigado a parar no Parque Gonçalves Ledo, onde os bandidos me colocaram no porta-malas do táxi. Vale lembrar que o cilindro de gás praticamente ocupa todo o porta-malas e eu fiquei todo espremido. Eles arrancaram o som, levaram todo o dinheiro que eu tinha e ainda me deram coronhadas. Além da humilhação e do prejuízo financeiro, sinto dores até hoje em alguns pontos do corpo, porque fiquei imprensado no porta-malas. Minha cabeça e a perna esquerda têm pontos doloridos, que já fiz de tudo, mas não passa”, relatou.

Carlos Alberto é taxista há cerca de oito anos e com o dinheiro que ganha em sua atividade mantém a esposa e paga pensão para dois filhos de um relacionamento anterior. Embora tenha medo da violência contra a categoria, ele diz que não pode largar a atividade. “Esta é a minha profissão, meu trabalho, o que gosto de fazer e o que me dá o dinheiro que preciso para sobreviver. Nenhum trabalho do mundo me dá a liberdade que tenho com o táxi. Faço meu horário, trabalho nos dias que quero e não sou demitido”, avaliou o taxista.

Ele acredita que, por ser uma atividade em que o prestador do serviço trabalha diretamente com o cliente, e os assaltantes sabem que sempre o condutor está com dinheiro, seja uma soma alta ou não, o trabalho em si os torna vulneráveis. “Mas depois do assalto que contei, tomei algumas precauções: não pego mais clientes que dão sinal do meio da rua, exceto mulheres com crianças pequenas ou idosos, não fico circulando com muito dinheiro e prefiro sempre pegar os passageiros pela rádio, que é mais seguro, já que os clientes são todos cadastrados”, explicou.

A oração usada como proteção

Edvaldo Santos, de 40 anos, é taxista há sete anos e nunca foi vítima de assalto. O segredo do “sucesso” ele atribui ao fato de circular apenas com clientes que ele já conhece há muito tempo ou passageiros da rádio. “Nunca passei por uma situação de assalto. Vejo os amigos contando e temo pela minha vida. Tenho meus filhos, minha mulher, ajudo meus pais, eles não podem ficar desassistidos por descuido meu. Além de me precaver não pegando passageiros que dão sinal na rua, ainda oro todas as manhãs antes de sair para o trabalho e quando retorno. Se não fizer bem, mal com certeza não fará”, defende.

Ele era amigo do taxista Fábio dos Santos, morto a tiros no mês de maio, no bairro da Levada. “Todo mundo que conhecia ele ficou muito chocado com a morte. Era um rapaz trabalhador, dedicado, atencioso com clientes, prestativo com os amigos”, lembrou.

Precaução nas viagens noturnas

Cristiano Melo trabalha há 15 anos como taxista e conta que dificilmente pega passageiros na rua durante à noite. Segundo ele, a maioria das corridas feitas nesse horário vem das chamadas recebidas pelo rádio. “Se precisar atender a um passageiro de noite, faço antes uma entrevista pra ver pra onde ele vai. Quando aceito, eu peço para que a pessoa levante a blusa e, se tiver alguma bolsa, peço para que mostre para evitar sair com alguém armado”, relatou.

Laedson Lucena é outro taxista que evita trabalhar depois das 19 horas. Ele disse que, normalmente, pensa duas vezes antes de atender um passageiro e, em alguns casos, recusa a corrida. “Não temos segurança. Em caso de assalto, é melhor dar tudo. O dinheiro passa, mas a vida não volta mais”, justificou.

Publicado por Redação em 12/12/2010 as 09:05

Carolina Sanches – Editora-adjunta de Cidades

Iracema Ferro – Repórter


Leia matéria completa na edição deste domingo (12) de O Jornal.
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